sábado, 20 de setembro de 2014

ARTIGO: A CONSTRUÇÃO DA PERCEPÇÃO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE ILHAS, POR EXTRAÇÃO MINERAL, ATRAVÉS DA REPRESENTAÇÃO.


Lurdes Maria Moro Zanon. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). lurdinhazanon@gmail.com;
Tassia Farencena Pereira. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). tassiafarencena@hotmail.com;
Bruno Maciel Peres. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). bdaperes@hotmail.com;

Gilda Maria Cabral Benaduce. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). g.benaduce@brturbo.com.br.


INTRODUÇÃO

O ensino da Geografia exige uma maior discussão das mudanças ocorridas no espaço e nas relações homem/meio, que com utilização de recursos didáticos torna-se mais fácil a percepção de um educando em relação à transformação ocorrida no espaço, além de facilitar a compreensão dos conteúdos de forma motivadora e prática. Auxiliando no aprendizado dos educandos que irão entender melhor que mundo é produto do homem, da sociedade e, portanto o da paisagem, que é cada vez mais transformada.
A elaboração dos croquis de ilhas fictícias da Oceania e o seu uso em sala de aula tiveram como objetivo o maior envolvimento e participação do educando na construção do saber geográfico, bem como se buscou ilustrar a ação do homem sobre a paisagem como agente criador e modificador do espaço geográfico. No caso os croquis das ilhas foram um auxílio prático para provocar nos educandos a vontade de aprender mais sobre a Oceania. Neste caso, a abordagem justifica-se pela necessidade de uma representação concreta para ilustrar as modificações ocorridas nas paisagens que deixam de ser naturais e passam a se constituir espaços geográficos, diagnosticando as conseqüências da ação humana ao longo do tempo, através de uma atividade dinâmica construída em grupo, proporcionando um ambiente favorável para aprendizagem.
Dessa maneira a utilização de recurso didático nas aulas de geografia é importante, pois fornece aos alunos uma nova visão de como é formado o espaço. Segundo OLIVEIRA (2010), a adoção do uso dos recursos didáticos, para uma melhor abordagem científica do ensino da geografia, contribui para uma maior compreensão da sociedade como o processo de ocupação dos espaços naturais, baseado nas relações do homem com o ambiente, em seus desdobramentos políticos, sociais, culturais e econômicos. Nesse sentido, o ensino da Geografia deve levar o aluno a sentir-se estimulado a intervir significativamente na realidade em construção, com a disposição de se constituir num agente da transformação social.
Neste contexto, a elaboração de croquis teve como proposta de trabalho para a alunos do Instituto Estadual Luiz Guilherme Prado Veppo, afim de que os educandos estivessem no papel de agentes transformadores da paisagem. Segundo Rodrigues (2000) os croquis geográficos são diferentes referenciais que servem de leitura e relacionamento com o mundo. Desta maneira entende-se que esse material é uma forma de ler diferentes paisagens que podem ser representadas, neste caso foram ilhas de Oceania, onde os educandos conseguem ter uma visualização sobre como é formado esse continente. Além disso, permite ao educando compreender a transformação do espaço causado pela interação entre homem versus natureza, possibilitando, dessa forma, a associação entre teoria e prática, e uma maior aproximação entre professor e educando.
Coaduna-se com essas reflexões FERREIRA et al.(2011), quando ressalta que:

A prática de ensino tem uma importância fundamental na hora de trabalhar os conteúdos, pois ela auxilia o professor na hora de ministrar suas aulas, fazendo com que ele confronte os conceitos que trazemos do dia a dia com os conceitos científicos. E que esse professor venha a inovar os métodos de trabalhar que ele não utilize apenas métodos tradicionais já conhecidos, que ele venha propor uma dinâmica em suas aulas tornando-o mais criativa. Os conceitos geográficos são instrumentos básicos para compreender e analisar a leitura do mundo do ponto de vista geográfico.

Diante dessa citação entendemos como é importante apresentar novas atividades para o conhecimento do aluno, sabendo que essa disciplina estuda as transformações do espaço no decorrer dos anos, sobre o ensino de geografia Cavalcante (1998, p.24) afirma que:

 Entre o homem e o lugar existe uma dialética, um constante movimento: se o espaço contribui para a formação do ser humano, este, por sua vez, com sua intervenção, com seus gestos, com seu trabalho, com suas atividades, transforma constantemente o espaço.


Assim compreende-se a importância do homem como agente transformador, pois a partir dessa representação conseguimos observar o quão é importante deixar as aulas de geografias mais praticas para maior aprendizado sobre a constituição do espaço geográfico.
Conforme interpretação de Mendonza e outros (1988), paisagem: “Um sistema real cujos elementos de interações são o que são com independência da percepção ou do significado que lhes deem as pessoas carentes do distanciamento e dos instrumentos teóricos adequados para um conhecimento objetivo” (1988, p. 132). Logo, a paisagem é composição mental resultante de uma seleção e estruturação subjetiva a partir da informação emitida pelo entorno, mediante o qual este se torna compreensível ao homem e orienta seus decisões e comportamentos. (idem, ibidem, p.132).
A paisagem é um ponto de aproximação de seu objeto de estudo que é o espaço geográfico. Nesse sentido, SANTOS define paisagem da seguinte forma: “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. não é formada apenas de volume, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.” (1988,p.61). Para ele paisagem é a materialização de um instante da sociedade, enquanto o espaço geográfico contém o movimento dessa sociedade, por isso paisagem e espaço constituem um par dialético.
O espaço geográfico corresponde ao espaço construído e alterado pelo homem; e pode ser definido com sendo o palco das realizações humanas nas quais estão às relações entre os homens e desses com a natureza. O espaço geográfico abriga o homem e todos os elementos naturais, tais como relevo, clima, vegetação e tudo que nela está inserido.
Diante dessas considerações constata-se que o espaço geográfico não é estático, as mudanças são contínuas e dinâmicas, ele é produto do trabalho humano sobre a natureza e todas as relações sociais ao longo da história. É evidente que o homem necessita da natureza para obter seu sustento, no entanto, o que tem sido promovido é uma exploração irracional dos recursos naturais, como pode ser tomado, por exemplo, as ilhas do continente da Oceania, altamente degradadas principalmente pela exploração mineral. Desta forma, o espaço geográfico é produzido social e historicamente, sendo diariamente reproduzido através do trabalho e demais atividades do homem, revelando, ainda, as contradições e desigualdades sociais. As mudanças ocorrem de maneira dialética; não é algo aleatório, mas sim, fruto de intencionalidades sociais, construído de acordo com a evolução histórica e também da ciência e técnicas presentes no território. O Espaço é, assim, um híbrido entre o meio natural e a técnica, com múltiplas relações que se caracterizam através dos objetos (formas) e ações (conteúdos) pelo transcorrer do tempo (SANTOS, 2009).
No intento de qualificar nossa compreensão de espaço sob a perspectiva analítica geográfica crítica, “como ponto de partida, propõem-se que o espaço seja definido como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações” (SANTOS, 2009, p. 21). Surge a partir da intencionalidade social por meio da qual o homem se apropria do espaço natural transformando-o, através do trabalho, em espaço geográfico, ou seja, são resultado e condição da dinamicidade de relações que os homens estabelecem cotidianamente entre si, com a natureza e consigo mesmo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Pretende-se com esse trabalho, a melhor compreensão sobre a exploração de ilhas, com referencia ao continente Oceania, através da construção de dois croquis. Desta maneira primeiramente elaboramos os recursos didáticos utilizando materiais como: isopor, argila, jornal, cola, tinta e serragem colorida.
A partir da elaboração dos croquis, levamos estes até o Instituto Estadual Luiz Guilherme Prado Veppo, onde proporcionou aos estudantes o entendimento de como ocorre a exploração de ilhas, sendo que este tipo de território possui menor extensão. Desta maneira para que os educandos conseguissem visualizar a grande modificação que pode ser feita a partir da ocupação foram elaboradas duas atividades, a primeira correspondendo aos alunos se acomodarem ao redor de um dos croquis, após este momento colocamos tinta preta, simbolizando a exploração de petróleo, em uma colher pequena, a partir disso os educandos tinham que passar a colher de um para outro derrubando o mínimo possível de tinta preta. A segunda atividade os alunos deveriam passar a colher de um para outro uma colher com purpurina, ilustrando o ouro, da mesma forma que anteriormente, derrubando a menor quantidade possível.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O uso dos croquis como auxilio didático para as aulas de Geografia, torna-se uma importante ferramenta de ensino-aprendizagem, pois contribui para dinamizar as aulas, permitindo ao educador utilizar-se desse recurso, para que a aquisição do conhecimento ocorra de forma prática e assim os educandos entendam a teoria. Além disso, os croquis dão à idéia de forma dimensionada do fenômeno que estão representando, possibilitando a ilustração direta dos mesmos, resultando assim em uma analise e compreensão de maneira integrada.
Entretanto, cabe destacar que os recursos didáticos, por sua vez, não têm a capacidade de garantir inteiramente a aprendizagem do educando, mas desperta maior interesse pela aula, pois possibilita com que estes se envolvam e participem de forma ativa trabalhando com um recurso concreto e palpável.
Através do uso dos croquis das ilhas fictícias da Oceania, se obtiveram resultados positivos, os educandos se envolveram com a atividade proposta assumindo papéis de diferentes personagens que atuariam sobre essas áreas, a criatividade foi enorme, o entusiasmo em ver os croquis e querer manusear os materiais que representavam os recursos minerais foi grande.
A atividade exigiu trabalho em grupo e cooperação de todos. Os educandos conseguiram compreender os conceitos de paisagem, espaço geográfico, os impactos ambientais causados nas ilhas da Oceania pela ação do homem principalmente aqueles resultantes das ações de grandes empresas mineradoras. Conceitos trabalhados no ensino de geografia geralmente de maneira tradicional apenas explicado oralmente pelo educador sem grande participação dos educandos, pelo uso dos croquis os conceitos foram construídos a partir da ação e percepção dos educandos de maneira conjunta.
A compreensão e o aprendizado do conteúdo por parte dos educandos pode ser percebida através de suas apresentações e respostas que davam à questionamentos feitos pelos educadores, a questão que mais chamou atenção foi a  escolha dos educandos quando indagados em qual ilha preferiam morar se na ilha de paisagem natural ou na ilha que já se constituía num espaço geográfico, elaboraram suas respostas realçando os aspectos positivos e os negativos que se encontravam em ambas ilhas, demonstrando que a atividade proporcionou o correto entendimento do conteúdo abordado em aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na pesquisa, chegou-se a conclusão da importância de se utilizar recursos didáticos em sala de aula, uma vez que, o educador é o elo entre o ensino e a aprendizagem, devendo sempre procurar maneiras de ampliar as formas de ministrar o conteúdo, com o intuito de despertar o interesse de seus educandos. Sendo que, dependendo do método que ele utilizará poderá proporcionar aulas criativas, e o croqui é um meio de intensificar os conhecimentos dos educandos de forma mais compreensível e menos teórica. 
A proposta de elaboração dos croquis representando ilhas ficticias da Oceania era propor a participação do educando na construção do conhecimento a respeito da ação humana, fazendo assim uma analise integrada da paisagem para entender a transformação do local apresentado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTI, L. S. GEOGRAFIA, ESCOLA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS. Campinas, SP: Papirus, 1998.

FERREIRA, A. A.; RODRIGUES, S. X. C.; JESUS, J. N de. A importância da prática no ensino de Geografia. IV EDIPE – Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino  2011.

MENDOZA, Josefina G. Et Alii. El Pensamiento Geografico. Barcelona: Alianza Editorial, 1988.

OLIVEIRA, Maria Luíza Tavares de. Ensino de Geografia na Contemporaneidade: o Uso de Recursos Didáticos na sua abordagem. 10º Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia - ENPEG, de 30 de agosto a 2 de setembro de 2010, Porto Alegre.

RODRIGUES, N. Por Uma Nova Escola - O transitório e o permanente na educação. São Paulo: Cortez, 2000.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.


SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC, 1988.

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